terça-feira, 19 de outubro de 2010

Elogio ao João-Vermelho

João-Vermelho é o esquerdista revolucionário, o inconformado. Neste post, João foi criticado. Mas, figura complexa que é, ele também tem os seus predicados.


O atributo mais admirável no João-Vermelho é sua lealdade. Admiro gente que estuda um ideal, crê nele e o serve.  Posso até discordar de um ideal, mas ao ver pessoas dedicadas a ele, bato palmas. Pois há poucas coisas mais detestáveis do que uma pessoa que só pensa em si, que tem como objetivo último de existência servir aos seus próprios interesses. Não é todo mundo trabalhando pelo interesse próprio que produz o bem comum. Isso seria mostrar que existe a mão invisível, que segue invisível até hoje. Mas é todo mundo trabalhando pelo interesse comum (e não apenas o próprio) que produz o bem comum.

Logo, o altruísmo e a abnegação são as mais nobres das virtudes, pois concorrem para o bem de todo mundo. Esse é inclusive o ideal do Cristianismo, o reconhecimento de que não é o interesse individual que mais importa. Deus está muito acima desses interesses. O amor a Deus é prioridade. E em igualdade ao amor a si mesmo, está o amor ao outro. Quando João-Vermelho renuncia a possíveis vantagens ou confronta pessoas por acreditar em princípios e ideias, ele está dando um valioso exemplo de boa conduta. Ele é leal, apaixonado. O mundo precisa de gente apaixonada e fiel. Num tempo de tanto relativismo, rochas fixas são muito bem-vindas, pois balizam o debate, e podem ser tanto elogiadas quanto atacadas. O problema do relativismo é que não pode ser nem criticado nem louvado, porque sempre está mudando. É uma postura furtiva e covarde.

Outra vantagem de termos o João-Vermelho atuante é seu zelo por questões que são diminuídas ou até mesmo ignoradas por grande parte dos homens públicos. Lembre-se do Plínio. Sem ele, teria o tema do salário mínimo sido debatido da maneira que foi? Seria o problema da dívida colocado em pauta? E ainda esses são temas pontuais. Há questões mais importantes. Sem João-Vermelho, falaríamos sobre a gravidade do problema da concentração de riquezas no Brasil, especialmente o capital e a terra? Falaríamos das sinistras desigualdades, da miséria, da opressão, da segregação? Falaríamos da importância dos movimentos sociais? Ou apenas os rotularíamos como bandidos? E quanto ao comum alinhamento cego às potências internacionais? João-Vermelho fala em autonomia internacional, fala em integração lationoamericana. Ele critica privatizações feitas a preço de banana. Não só no Brasil: na Colômbia, no México, na Costa Rica, na Rússia. Pois assim engordaram até à imoralidade homens como Carlos Slim, Daniel Dantas e Roman Abramovich.

Posso discordar muito do João-Vermelho. Ele é tolerante demais com uns, intolerante demais com outros. Ele é radical demais. Ele é aprendiz de ditador. Ele é crente em experiências malsucedidas. Mas, João, que bom que você existe. Como disse Voltaire, “eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”.

4 comentários:

  1. Simples, direto, profundo, inteligente, pertinente, tenaz, ponderado, perspicaz, ousado, hábil e instigante... Sábias palavras AZ. Parabéns pelo post.

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  2. Show... eu aspiro a um João-Vermelho moderado, muito mais centrado, haha... Um debate saudável, sem radicalismos, pode servir de base para uma construção da linguagem política. Erradicar o relativismo, impossível; mas podemos encará-lo com um bom jogo de cintura. Um abraço... Continue firme no blog. Você é formador de opinião. Parabéns!!!

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  3. valeu, Bog! e repito: espero em breve poder ler as lendárias colocações suas e do Reré online.

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